terça-feira, 2 de outubro de 2012

25 de setembro de 2011: sonho vivo

Existem muitos tipos de sonhos que temos ao longo da vida. Temos aqueles que consideramos inatingíveis, que nunca serão alcanaçados; temos aqueles que perseguimos de forma visceral a vida toda. Existem também aqueles intermináveis, que mesmo depois de perseguí-los e conquistá-los, nunca conseguimos sair 100% deles. E isso não deve ser visto como algo negativo. Nem sempre viver em um sonho é perigoso. 

Deve ter sido mais ou menos isso que as 110 mil pessoas que estavam na Cidade do Rock, há pouco mais de um ano, sentiram. O Dia Metal foi, sem dúvida, o mais intenso do Rock in Rio, em 2011. Paradoxalmente, um estilo onde se fala sobre isolamento, frieza, egocentrismo - sendo essa imagem errônea divulgada para milhares de pessoas - foi responsável por um grande encontro de ansiedade, sorrisos e confraternização. Eu estava lá. Sozinho. Ao mesmo tempo, rodeado por 109.999 amigos. Fora os que estavam em cima do palco.

4km de fila aguardando a abertura dos portões. Ambulantes vendendo de coca-cola à coca, e correndo dos policiais que tentavam recolher seus produtos. Na fila, enrolado na bandeira de Pernambuco, eu esperava pacientemente a abertura para escolher um lugar bom. Fiz amizade com quatro cariocas, que ficaram comigo até o último acorde do Metallica. Quando entrei e rodei a catraca, me ajoelhei e, ao som do tema do festival, beijei o chão de um de meus maiores sonhos e fui conhecer o local.


Nem a praça do Jazz, nem os souvenirs, nem os sanduíches caríssimos fizeram a diferença. Tudo lindo, mas dispensável. O que fez a diferença foram escoceses tentando comprar a bandeira de Pernambuco simplesmente por acharem-na bonita, pessoas gritando "Ipsep! Ipsep!" quando eu gritava que era do Recife,  gente do Rio Grande do Sul se abraçando com africanos e cantando músicas do Slipknot, aguardando a noite. Ainda faltavam muitas horas. Faltavam anos, na cabeça de muita gente, inclusive eu.

Quando o sol desapareceu, não foi a escuridão profunda do mundo Metal que apareceu, e sim o brilho nos olhos dos fãs, grudados no palco, sem acotovelando e abrindo rodas, se esmurrando e se abraçando três segundos depois. Quando o "S" do Slipknot começou a queimar no palco, vi pessoas se abraçando, e me abracei com um fã mineiro que chorava de emoção do meu lado. Para a minha surpresa, era o terceiro show do Slipknot que ele via, mas "nada igual a emoção de hoje". Apesar de não ter visto outros, eu sabia o que ele falava.



Durante o Slipknot o que se viu foram aproximadamente 20 músicas sem respirar, como se houvesse um único respiro antes do mergulho. O único sopro, talvez, foi o salto do DJ Starscream exatamente onde eu estava. Posso dizer que apertei a bunda de uma estrela. Logo depois, percebemos o ex-baterista do Dream Theater, Mike Portnoy, assistindo o show. Nada importava. Era o palco, era a poeira que subia, mesmo o chão sendo de grama artificial. Dizimada.

Quando Corey encerrou o show - não antes sem confirmar que fora o maior público da banda - o mergulho continuou em estágio abissal. O Metallica entrou e eu, a esta altura, na grade, com o peitoral cortado pelos empurrões contra a proteção, não me lembro de nada, mas lembro de tudo ao mesmo tempo. Em "For Whom The Bell Tolls" eu percebi, enfim, depois de mais de sete horas de cidade do Rock, a dimensão do sonho realizado.

Desde aquele dia, há 1 ano e 8 dias, eu lembro todos os dias. Eu sempre vou me lembrar. Se você acha que, indo para shows, você sabe o qual a sensação, vá para um festival. Vá viver. Vá viver seus sonhos. Eu até hoje tenho meus ingressos. Sempre os terei, fisica e mentalmente.


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Eu não tenho nenhuma grande história para contar. Não tenho nenhuma lição humanitária, não tenho nenhum conto reflexivo e redentor. Não tenho nenhum ensinamento "jogo-rápido". Acho que muito por culpa minha. Por não permitir que estes ensinamentos e histórias adentrem. Afinal, todos têm algo para contar. E eu só tenho histórias de auto-ajuda sobre como se pode sobreviver sendo gago. Pequeno, muito pequeno.

Sempre quis ser pai, um bom jornalista e um jogador de basquete de final de semana. Além disso, quero ter boas histórias para contar. Não para filhos/netos ou algo do tipo, mas para ter a sensação que vivi. Parece que meus relatos insignificantes só afloram na minha mente quando estimulados por outras pessoas. Ficam guardados em um baú, que eu não sei bem o caminho na minha mente para encontrá-lo.

Ser quem se quer ser. Ser quem se acha que é. Frases gigantes.


Retrospectiva

No dia oito de fevereiro de 2010 eu postei aqui, neste blog, um texto sobre minhas vontades.  Das mais frívolas às mais importantes. É interessante notar que muitas das prioridades mudaram em pouco mais de dois anos. Como algumas, principalmente as frívolas, seguem exatamente da mesma forma: distantes e desejadas.

Às vezes é muito difícil ser um personagem. Eu fui um por um longo período da minha vida. Livrar-se deste manto é muito bom. E difícil. É lidar com a real possibilidade de ser amado e rejeitado. É saber entender que temos limites. E que podemos transpor a maioria deles. É parar de dar valor às coisas pequenas, ainda mais quando se sabe que elas são pequenas. E sim dar valor as coisas pequenas grandes. Pena que se demore mais para entender essas.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

O crachá

A realização de um sonho consiste em várias etapas. O sentimento que se tem ao realizá-lo, também. Quando se conquista algo que se tentou por uma vida inteira, se sente um vazio dentro. É o clássico ditado que "perseguir é mais prazeroso que conquistar". Mas esse vazio é compensando muitas vezes com desdobramentos do sonho realizado.

Existem alegrias abstratas, como a felicidade que simplesmente se sente ao saber que se conquistou algo. É muito interessante, também, que algo concreto pode ser usado como prova da realização. Ao entrar no Diario de Pernambuco como estagiário da editoria de esportes, tive a certeza que realizaria dois sonhos extremamente bestas: o de dizer "estou na redação" e o de usar o crachá do jornal, com minha foto nele.

Apesar de estar no Diario desde o dia três de julho, só agora recebi o crachá. E não se pode ter vergonha de dizer o que se sente ao sentir algo tão grande. Ao pegá-lo, analisei-o todo: o material, o prendedor, o colar que o prende. Fiquei olhando, definitivamente admirando aquilo que, para um veterano no jornal, pode ser a coisa mais banal do mundo. Não pra mim.

Uma das pessoas que mais admiro no meio do Jornalismo me disse assim que eu entrei para o jornal: "você é a prova de que esforço e trabalho duro valem a pena." E ver aquele crachá na minha mão, com minha foto e o nome "imprensa" embaixo suscitou uma série de sentimentos. Promoveu na minha cabeça uma série de lembranças de tudo que passei até chegar neste posto. E de como tudo é, de fato, muito pequeno frente ao que sentimos quando estamos felizes.

Pegar aquele crachá e colocá-lo no meu pescoço me fez sentir muito perto de ser uma pessoa completa. Infelizmente são poucos os que tem a felicidade de realizar seus sonhos. E eu, por alguns poucos segundos, saí do chão. Logo voltei, pois tinha trabalho para terminar. Manter o crachá no peito é muito difícil, e sempre que chego em casa e o retiro, o faço com cuidado.

O cuidado e apego que tenho para com ele é o mesmo que tenho com outros sonhos que ainda não realizei. O crachá representa algo não palpável. Aquele tipo de sensação que só um sorriso ou uma lágrima - ou os dois - pode explicar. Ser chamado de Jornalista pode ser bom para o ego, mas saber que você está, de fato, se tornando um, é ainda melhor.

Olhar para o crachá e virar-se para esquerda, observando toda a imensa redação do Diario de Pernambuco, me fez sentir parte da engrenagem. Me sentir vivo. Todos, absolutamente todos temos lembranças que se tornaram atemporais. Geralmente só nos damos conta delas tempos depois. Não desta vez. Ter esse crachá comigo vai me fazer lembrar que, esforço, raça e trabalho duro fazem sim a diferença. Não para arrumar um emprego. Nem que seja dos sonhos. Mas para ser feliz.

O crachá é de Jornalista do Diario. Tem a minha foto. Só entenderá quem sonha. É olhar e pensar: eu consegui. E isso é algo raro, difícil e muitas vezes enganoso. Mas não consegui sozinho. Muitos, muitos aprenderam comigo e não aguentaram. O sonho é de todos.

Se no Jornal não tem crédito, eu tenho aqui. De sobra,.



quinta-feira, 7 de junho de 2012

Bravatas

Tudo sempre é muito grande. Tudo sempre não tem solução. Ou achamos que somos pequenos demais para resolver vários dos nossos problemas. Procuramos viver sob regras que foram construídas muito antes de nós, e que acabam se tornando muros, nos intimidando e não nos deixando ver além. Ficamos cheios, cheios de ansiedade, cheios de raiva, cheios de vontade, cheios de força para galgar esses muros. Mas, ao mesmo tempo, colocamos na cabeça que nunca conseguiremos fazer isso, e vivemos num eterno looping de auto-piedade e revolta.

É muito difícil conseguir respirar direito com tanta coisa dentro do peito. é mais complicado ainda conseguir dormir com os tornados que vivem dentro de nossas cabeças. Mas tudo começa a ficar mais fácil - mesmo que 0,5% - quando resolvemos, dentro de nós mesmos, que os tornados podem ser domados, e que podemos expirar o ar. De uma vez só. E que tudo é, na verdade, pequeno demais frente ao sentimento que podemos sentir em determinados momentos de nossas vidas.

Nós temos de ser arrogantes. Afinal, somos maiores que todos os nossos problemas. E não deveríamos deixar ninguém dizer o contrário. Somos maiores que nossos medos, que nossas frustrações. Temos que aprender a usar essas bravatas a nosso favor. Em virtude de elas serem absolutamente verdadeiras. Também somos sempre jovens, pois estamos sempre recomeçando, todos os dias, ao abrirmos os olhos logo de manhã. Nossa continuidade dura até os fechamos de forma definitiva, no final do dia.



Todos os dias começamos mais uma trajetória. Não importa se com as mesmas pessoas (que, por sinal, mudaram do dia que você as viu para este dia) e nos mesmos lugares. Tudo é sempre diferente, tudo sempre recomeça. Você tem sempre que recomeçar. E recomeçar implica em determinação. Viver sempre tentando conseguir o que se planeja força você a se movimentar e pasmem, a conseguir. Esses recomeços serão a coisa mais constante da nossa vida. É por isso que, ao olharmos pra trás, tudo parece tão distante. 

É porque está, mesmo.

Uma das maneiras de aproximarmos de nós o que passou é fechando os olhos. É recomeçar dentro do recomeço. Em qualquer momento de nossa vida.

Não temos apenas uma vida. Temos várias. E não fazemos, muitas vezes, ideia de quantas oportunidades sequer percebemos em virtude de acharmos que tudo está tão interligado que não podemos mudar. Este texto não foi feito para fazer sentido, foi feito para apontar que sair das sombras pode ser muito mais fácil do que se imagina, se não ficarmos tão ligados à teoria das bravatas, falada logo acima.

Deveremos fazer o que sentimos ser bom.

Quando esta frase começar a ser colocada em prática, seremos enfim aliados do maior dos muros.

O tempo.

domingo, 20 de maio de 2012

Form/Deform

Caminha-se. 

Ouve-se barulho. Pássaros. Caminhões. Folhas. Ouve-se o vento. Ele fala através de outros. Não há absolutamente ninguém na calçada. Você olha para todos os lados. Até para cima. Ninguém. Coloca as mãos dentro dos bolsos, encolhe os ombros, se escondendo do frio, mas ao mesmo tempo pedindo que ele não pare de soprar.

 E continua caminhando. Você vê pessoas indo trabalhar. Vê cachorros dormindo embaixo dos bancos. Vê gatos se espreguiçando. Vê pessoas dormindo. Todas longe de você. Você não é notado. Então você percebe que pode andar de olhos fechados, mesmo que por alguns segundos.

O frio fica mais palpável. Até que o vento fica forte, e as folhas balançam. Aquele pingo, maroto o danado, cai no meio da sua testa. Gelado. Só consegue arrancar um sorriso e aquela frase egoísta que todos usamos: "só comigo mesmo".

 Só conosco o quê?

Que sentidos procuramos para sermos especiais diante de nossos próprios olhos? Buscamos nos sentir únicos não diante dos outros, mas diante de nós mesmos em muitas oportunidades. Tentamos tanto isso que esquecemos de ouvir, de sentir o outro lado. Perdemos a melhor coisa dessa curta passagem por aqui.

A possibilidade de ser tão feliz ao ponto de se ter dúvida entre ilusão e realidade.

Através de outros olhos que não os seus. Caminha-se.

Quando enfim, se chega, o vento para.
Amanheceu.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Reign Over Me

O primeiro post deste blog foi indicando o filme que, pra mim, é a maior obra prima já feita pelo cinema. Desde então, deve ter feito post semelhante, no máximo, 2 vezes. Ontem revi um filme que, além de ter dois - espetaculares - atores subvalorizados, tem como música de encerramento uma maravilha do Rock.

Reign Over Me, com Adam Sandler e Don Cheadle, trata de um homem com estresse pós-traumático após um acidente que vitimou sua família. A partir deste fato, ele se fecha para o mundo e passa a ser uma pessoa com muitos problemas de socialização e psicológicos, até reencontrar um colega de faculdade que não via há anos.



A partir deste momento a vida de ambos começa a mudar, com as personagens enfrentando seus próprios demônios, e se ajudando mutuamente, às vezes de forma até inconsciente. Tudo isso permeado por "Love Reign Over Me", do The Who, mas que é brilhantemente tocada pelo Pearl Jam.

O que se tem é Adam Sandler mostrando que é um dos melhores e mais versáteis atores de sua geração, fazendo de comédias pastelões como "O Paizão" até dramas pesados como este, em questão. A última cena dá uma sensação única de liberdade a quem assiste. Carrega sentimentos que podemos fazer o que quisermos, se não formos covardes demais para tentar. A música, como pano de fundo, é esplêndida.

E o walk-machine, claro... A vontade de ter de novo é imensa. Vale muito a pena ver.