sábado, 26 de setembro de 2009

Hoje o tempo voa, amor.

Ouvindo essa obra prima do mestre Lulu (sim), me lembrei de uma parte muito significativa da minha infância. Me lembro que, de 1 ano de idade, até uns 15, 16, eu ia todos os fins-de-semana para a minha casa de praia, em São José. E, nas férias de Janeiro, ia também. Chegava depois do ano novo, colocava uma sunga e só tirava dia 31. Ela praticamente andava sozinha pela praia, tamanho era o uso. Em São José, minha casa vivia sempre cheia de gente. Cheia de gente sorrindo. Era sempre alguém entrando com carne pra churrasco, com gelo pras bebidas, com braços abertos pra abraçar.

Na frente da casa, haviam duas árvores, que davam umas flores amarelas, que não serviam pra muita coisa, a não ser se configurar como as duas traves das peladas que rolavam ali, todo santo dia. Começou comigo bem jovem, e, depois, foi se transformando numa rivalidade forte, com Rodrigo, meu vizinho. O cara sempre jogou muito melhor que eu, mas eu era bem melhor goleiro que ele, o que deixava tudo empatado. O desempate, geralmente, eram as malditas pedrinhas que se escondiam na areia, que sempre tiravam metade do dedo de algum infeliz.

O quintal da casa era bem amplo. Tinha um chuveirão, pra quem vinha da praia. A pessoa entrava pelo lado da casa, pra não sujar a sala (segundo mãe) e ia direto tirar o sal no chuveirão. Ele era ligado diretamente no cano da caixa d'água, ou seja, água fortíssima. Cura ressaca, diziam alguns. Quantas vezes não tomei esporro por esvaziar a caixa só por tomar alguns minutos a mais aquele banho maravilhoso.

Mas, sem dúvida, o que mais me lembro, e o que mais sinto falta, obviamente, é do caseiro. Aliás, caseiro o caralho. Seu Edílson. Até hoje não encontrei pessoa mais pura, honesta, e íntegra do que ele. Uma pessoa com um sorriso puro, que tinha o lúdico nos olhos, ao ponto de jogar barra-barra com uma criança de 8 anos, e não parar de fazê-lo até os 16 anos. Muitos anos de vitórias, derrotas, "tamboques" de dedo e, acima de tudo, felicidade. Que cara sensacional.

Íamos visitar os hippies, na praça da cidade. Todos um bando de cachaceiros que colocavam roupas de hippies durante a alta estação. Conhecia todos, e Edílson também, comprávamos colares do Bob Marley a preço de custo. Não éramos turistas! Lembro da risada dele, e do fato de quase ser demitido por não comer 8 ovos que ficaram na geladeira por 8 meses, simplesmente porque meu pai não tinha dito para ele comer.

Me ajudava demais, simplesmente sorrindo pra mim, pescando com cara de bambu em jangadas ancoradas no mar. Não fazíamos idéia de quem eram as jangadas, mas e daí? Também não pegávamos peixe nenhum mesmo. Mas os meses de Janeiro eram, sem dúvida, os que eu me sentia mais vivo. Mais completo. Tinha um amigo de quase 40 anos que, sem qualquer tipo de instrução, era mais honesto e prazeroso do que qualquer outro.

Sinto muita falta de Edílson, que, depois de quase 17 anos, não pôde ficar conosco, por conta da falta de grana. Espero, do fundo do coração, que esteja bom. Tem gente que nasceu pra ser feliz. Se Edílson nasceu assim, não sei, mas a felicidade está em cada gesto dele. Eu lembro.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Lágrimas.

O menino quase nunca chorava, apesar de ter motivos para tal.

Ocorriam os mais diversos problemas, de toda ordem emocional, para com ele diretamente e com sua família. Isso, obviamente, respingava nele. Apesar de se dizer racional e independente, ele tem determinadas raízes muito bem fincadas com seu pai e sua mãe. Mas, mesmo assim, o menino não chorava. Quando havia algum problema ou situação onde o choro seria uma reação esperada e completamente normal, ele reagia com raiva, com um excesso de atitude, visando encerrar aquilo o mais rápido possível. Era raçudo ele. Muitos diziam que ele se fazia de forte. Que não queria preocupar ninguém; que não queria ser mais um estorvo, causando comoção em outras pessoas, já tão assoberbadas, com seu choro inútil. Nada disso.

Ele tinha um problema maior: O menino não conseguia chorar. Passava meses, semestres, anos sem conseguir derramar uma lágrima sequer. Muitas vezes ele forçou seus olhos, tentando buscar alguma resposta dentro deles, para seu rosto ficasse inchado, e os olhos vermelhos, para assim sua face tornar-se mais fiel com o que ele sentia dentro de si mesmo. quase nunca obtinha sucesso. Ele não chorava, e as pessoas ficavam espantadas com isso. Não era aquilo que elas esperariam de uma pessoa normal. E exatamente por isso, ele tentava chorar: Porque era exatamente aquilo que os outros esperariam. Seria o compreensível.

Mas ficava tudo dentro dele. O menino dizia que "chorava pra dentro", que as lágrimas caiam dentro de seu corpo, pois seus olhos pareciam secos para o lado de fora. e olhe que o garotão já havia passado por situações-limite, de cunho emocional. Mas ele parecia ter uma dificuldade acima do comum de chorar. Nada a ver com machismo ou qualquer outro "ísmo" idiota. Ele simplesmente não encontrara situação que explicasse e/ou definisse tal ato (ou falta de ato). Ele sempre fora muito preocupado com o que as pessoas estavam esperando dele. E, em virtude disso, ficava decepcionado quando não conseguia transmitir para os demais, o que ele queria que vissem.

Foi exatamente isso que fez o garoto chorar de novo. E como foi boa a sensação. Sofrer, e conseguir traduzir isso em lágrimas. Abundantes, caudalosas e sinceras. Ele chorou, e ao mesmo tempo parecia satisfeito, por ter desafogado, pelo menos um pouco, suas mazelas em uns pingos d'água. O piso do seu quarto, mais especificamente onde fica a cadeira de estudos, ficou tremendamente escorregadio. Enxugou com um par de meia sujo, que sempre estava por perto. O menino chorou, chorou. Buscou respostas e, subitamente, muitas delas apareceram.

Sua cabeça parecia estar tão cheia de lágrimas represadas, que não havia espaço para as respostas passarem.

domingo, 26 de julho de 2009

Blackfield

Sabe quando você para e começa a pensar na sua vida, naquelas retrospectivas super completas de 5 minutos? Geralmente, isso ocorre quando colocamos a cabeça no travesseiro, uma vez ou outra. Pode ser do dia que passou; de um trabalho concluído, de sua infância até certo ponto. Enfim, o intervalo temporal pode ser definido de qualquer forma, a gosto do freguês.

E às vezes, quando eu faço essa retrospectiva, um sentimento é muito recorrente: O de que minha vida e minhas atitudes andam em círculos. Que eu simplesmente não consigo andar pra frente. Que minha preguiça e insegurança me fazem não atingir minhas metas traçadas. Parece que eu sempre tenho que olhar para trás para buscar alguma solução, e não pra frente.

Por que para mim não existe o futuro. Não existe a perspectiva dele. Tenho sonhos, como todas as pessoas têm. Quero realizá-los, como todos os outros. Mas existe uma sensação de que esse tipo de realização não funcionará comigo.

Mas o fato é que, de vez em quando, andar em círculos é uma coisa surpreendentemente boa. Um amigo que lhe liga no meio da noite, depois de um dia difícil, e lhe chama para conversar. Um amigo que não tinha intimidade com você sobre assuntos pessoais dele, e de repente vê em você uma pessoa útil. Utilidade.

Ao redor da mesa, mais dois colegas, que você queria demais que subissem de posto na classificação social. Colegas o cacete. É uma sensação doentia de tentar ser amado, ou simplesmente saber que as pessoas sentem prazer em ter sua companhia. Mesmo fazendo tantas coisas erradas, e tendo tantos problemas de foco.

Eu não sei vou conseguir alguma coisa de relevante para mim, na vida. Eu sei que, quando eu morrer, seu serei lembrado por um tempo, e depois serei relativamente esquecido, como todas as pessoas normais são. Mas eu acho que consegui gravar alguma coisa de importante na vida de determinadas pessoas. E isso, para mim, soa como uma vitória. Como um objetivo alcançado.

Não tenho pensado em outra coisa, se não no amor.

O mês de férias está acabando, e eu tenho exatamente as mesmas metas que tinha quando o mês de férias do começo do ano terminou. Ou seja: Não andei. Vamos ver agora.

sábado, 4 de julho de 2009

Take a Picture.

Sabem, eu sempre fui uma pessoa constantemente decepcionada comigo mesmo, com um sem-número de pessoas e com a vida em geral. Sempre enxerguei um potencial imenso de felicidade que não é aproveitado. Por mim. Sempre pensei que poderia ser muito mais feliz do que sou, se conseguisse aproveitar tudo que a vida tem para oferecer. Por algumas razões, não posso ou não consigo.

Mas sempre obtive uma excelente fuga nos filmes. Certos filmes me dão muito mais esperança do que qualquer conversa com pai, mãe ou amigos. Certos filmes que vi e não me canso de ver quantas vezes eu puder, me fazem sempre acreditar de que a felicidade é possível como é visto neles. Não sei se realmente é, mas o notório é que, depois que eles terminam, sem vem um sorriso imenso no meu rosto, e uma vontade de chorar. Um choro de redenção. Tipo um "vai lá, porra!"

Um filme em especial, o qual não direi o nome aqui, por que muitos não entenderão, e que acabei de ver (são 4 da manhã), sempre me faz acreditar, sempre me faz ter fé. Uma fé que faz questão de não me largar, apesar de eu já a ter largado várias vezes. Muitas pessoas fazem uma imagem de mim como uma pessoa que eu simplesmente não consigo enxergar. Mas são tantas as pessoas que têm a mesma imagem, que eu começo a me perguntar se o errado e o burro não sou eu. Muito mais fácil que diversas pessoas estejam certas, do que apenas uma, creio eu.

Esse filme me fez ver que, às vezes, é preciso transpor limites, ou até mesmo criá-los, quando não se tem, para ser feliz. Rever conceitos e atitudes, e principalmente opiniões sobre si mesmo. Sobre o que é importante para você. Como se fosse uma foto. Incrível como esse filme, cheio de sorrisos e momentos bonitos, me fez ter vontade de escrever esse tópico, e em especial algumas frases que colocarei no final do post.

Muitas vezes, quando vemos alguém morrendo, ou uma pessoa que está prestes a morrer, mas que subitamente consegue se salvar, ouvimos delas que queriam dizer a muitas pessoas o quanto as amavam, mas que acharam que não teriam a oportunidade. Isso é verdade. A maioria das pessoas deixa passar esse tipo de sentimento ou atitude, a achando vergonhosa ou desnecessária.

Pois bem. Não se sabe o dia de amanhã, nunca sabemos o que acontecerá conosco, visto que não temos qualquer controle sobre nada. Tem tanta gente que eu amo, cada um à sua maneira, tanta gente que eu gosto, que chega dói. Eu amo muito, muitas pessoas. Queria que todas elas fossem muito, mas muito felizes. Mas não sei se terei a oportunidade de dizer isso a cada uma delas. Vou me esforçar ao máximo para cumprir isso.

Como num filme, essa declaração, quando sincera, pode fazer muita gente rever o modo de viver, e de ver a vida. Valores absolutos como amizade; comprometimento; companheirismo e amor, são baluartes que não podem ser separados da vida. Esses valors nos movem, nos fazem sorrir.

Nos dão esperança.

Eu amo muita, muita gente. Esse filme me fez ver isso com uma clareza maior do que eu sempre vi. Devia viver dentro de um cinema, devia viver em um lugar onde eu conseguisse ser sincero sem ser considerado frágil.

Amo vocês pra caralho. Sempre amarei, mesmo que às vezes não pareça. Amo muito, mesmo que sinta dor. "Can everyone agree that no one should be left alone"

Infelizmente, muitos serão deixados pra trás. Mas eu queria deixar aqui registrado. Fibra moral.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Dead Can Dance.

Papo de pai pra filho.

"Vou buscar sua mãe no trabalho, tá a fim de ir?"
- Tô, bora nessa.

Boa Viagem-Afogados. Trânsito filho da puta, mas andando. O carro sem rádio, e andando na maldita imbiribeira, onde nem mulher bonita tem, nem sequer aquelas putas charmosas, que pelo menos dá pra olhar. Nem isso. Só lojas de móveis, motos, plantas e carros. Ah, e claro, estudantes de Universidades pagas.

"Porra, o time dos Estados Unidos é arrumadinho. A Espanha entrou de salto alto."
- Nem acho que tenha sido salto alto. Têm dias que a bola simplesmente não entra. O Villa perdeu duas na cara do gol, e a zaga americana nunca mais repete uma atuação dessa.
"Como é o nome daquele atacante galego da Espanha? Basílio? Muito bom.
- Que Basílio, porra. Torres. Joga no Liverpool.
"Ah... Muito bom ele."

Engraçado como Afogados parece outro mundo. Um lugar escuro. Ermo. Parece uma daquelas cidades-fantasma norte-americanas, onde vivem aqueles libertários, que são contrário a qualquer intervenção formal do Estado na sociedade. A diferença é que em Afogados têm postes quebrados e ladrões.

"O metrô tá em greve ainda?"
- Tá. Vai ser foda, os ônibus vão entrar também, a cidade vai parar.
" Vai mesmo. Como tu vai fazer pra ir pra faculdade?"
- Tô de férias.
"Desde quando?!"
- Desde ontem.
"Porra."
- É...

Chega-se no hospital que a mãe trabalha. Pega-se ela. Já entra no carro falando, típico de mulher:

"Vamos passar no mercadinho do Ciço, pra comprar nescau, pão e leite."
Pai: Tu só avisou agora por quê?
"Avisei hoje de manhã."
Pai: Avisou semana passada também, não conta.

(Risos do filho).

Chega-se no mercadinho, e o filho ia ajudar a mãe na árdua tarefa de pegar o Nescau na prateleira do Ciço. O Ciço deve ser o único mercado feito para faquir e jogador de basquete. A distância entre as prateleiras as estantes deve ser de uns 30cm, e as plateleiras são altas. O mercado é de alto nível (cabem aqui aqueles "rsrs" irritantes).

Mas, na saída do carro, a mãe e o filho se deparam com uma velha, no caixa, já de saída, narrando sua epopéia de como havia reagido a um assalto e metido a porrada no trombadinha. A velha era uma figura assombrosa. Uns 15kg, cabelos que iam até a bunda. Devia ser evangélica aposentada, visto que cabelos também saiam de suas orelhas. A vó era praticamente o mestre splinter.

"Que porra é aquilo?!" Sussurra o filho.

O pai cai na gargalhada, e o filho rí da gargalhada do pai. A mãe vai sozinha, virando o rosto para o lado oposto do da velha, para evitar risadas frontais. Enquanto isso, o filho se encosta no carro, em pé, como uma autêntica puta, rindo com o pai do quão feia era aquela senhora. Exemplo de momento microscópico, de uma família feliz, fofocando e rindo de outra pessoa, como qualquer grupo social saudável.

Quando se entra em casa, cada um pro seu canto. Pronto, acabou.


sábado, 20 de junho de 2009

Descobertas Tardias. Arrependimentos Presentes.

Feel, no shame, too brave
Feel, afraid, to wait forever


Junho sempre foi um mês único na minha vida. Além de ser o mês do meu aniversário, onde, por sinal, muita coisa se definiu ao longo dos anos, é geralmente a época do ano onde sempre ocorre algo de extraordinário. Pois bem, aconteceu essa semana. Aliás, ainda está acontecendo.

Sempre se diz que vivemos nossas vidas de acordo com nossas convicções, e que sempre buscamos o melhor e o máximo para sermos felizes, também de acordo com nossas crenças e nossos objetivos. Isso é a mais absoluta verdade. Afinal, nossas convicções sempre serviram, servem e servirão de porto seguro para nossa consciência, para nossas dúvidas e reflexões. Quando nos perguntamos sobre o que estamos fazendo, sobre onde estamos investindo nossas forças, ou sobre porque aquilo que tentamos não deu certo, ou não saiu do jeito como queríamos, sempre recorremos, entre outras coisas, à nossas convicções. Quase sempre acerca da dicotomia entre certo e errado.

Isso é pouco conversado, e pior, pouco refletido pela maioria das pessoas. Mas praticamente tudo que fazemos, sentimos e planejamos, é com base no que achamos certo e errado para nossas vidas, e para a vida das pessoas que nos rodeiam, nossos amigos, conhecidos, familiares, et cetera.

Mas isso não quer dizer que essas crenças e convicções sejam imutáveis. Muito pelo contrário. Reside exatamente na flexibilidade daquilo que acreditamos, o nosso próprio desenvolvimento, o progresso e a formação de nossa personalidade. Resumindo: Aquilo que acreditamos muda constantemente. O que somos, muda constantemente. E uma das principais molas propulsoras da vida é quando percebemos que uma convicção nossa estava errada. Não digo que se desperdiçou tempo nem energia, mas canalizou-se de uma maneira errada tal qual que instala-se na na nossa mente um das piores condições existentes: O arrependimento.

Quando nós, depois de um tempo, e longe do "olho do furacão", percebemos que perdemos uma oportunidade por estarmos cegos para ela, inevitavelmente instala-se dentro de cada um, um sentimento insuportável de impotência. Afinal, não se pode mudar o que já foi. O que se pode é tentar remodelar o que ainda existe. Tentar readaptar-se e criar de novo aquela oportunidade. É possível. Mas extremamente difícil e complexo. Ainda mais quando se trata de pessoas. Quando se trata de outras pessoas.

Olhando para trás e vendo que uma chance de ser feliz passou exatamente diante de seus olhos, e esteve ao seu lado durante um bom período de tempo, e você, mais preocupado em lutar contra a infelicidade, desperdiçou uma chance muito mais clara e direta. Claro que nada é concreto e absoluto como esse texto pode passar. Mas, vendo as coisas de fora, como se tudo fosse passado; estivesse morto em enterrado, se percebe como uma chance preciosa de felicidade escapou diante das nossas mãos.

E aí? Correr atrás? "Nostalgiar" por alguns momentos e seguir em frente? Adaptar-se ao que se tem?

Respostas flexíveis, para todos os gostos. Mas, com certeza, em todo mundo, aquele maldito sentimento de arrependimento bate à porta e martela, fura, alfineta, pelo menos por alguns momentos, e você se sente o maior imbecil do mundo. Me lembro de quando eu passei 4 meses juntando dinheiro para comprar um boneco da série "Spawn". Quando finalmente juntei quantia que precisava, fui ao Shopping, e vi um boneco com mais garras, com cara de ameaçador, e o comprei, esquecendo meu projeto grandioso de 4 meses de economia. Resultado: O boneco que comprei era uma porcaria, e nunca mais tive paciência e/ou disposição para juntar dinheiro por mais 4 meses para comprar aquele que eu realmente queria.

Arrependimento dói na alma. Maltrata. Nos chama de imbecis. Dá uma vontade de gritar até sua pele se inverter, e você ficar todo exposto pra fora.

sábado, 6 de junho de 2009

To be Melancholic.

Passa-se a tarde aconselhando outro. Passa-se a tarde ouvindo problemas, cansaço, lamentações. Passa-se a tarde sentindo-se útil, e tentando pensar que ainda existe alguma coisa boa. Mas aquela maldita esperança teima em não morrer. Você se sente cada vez mais vivo quando as pessoas dão importância à sua falta e ao que você tem a dizer. Mas parece que nunca é o suficiente.

A casa do outro, onde se passou a tarde, fica perto daqui. Voltei andando para a minha. No meio da caminhada, cai uma chuva forte. Olhei para os lados, em todas as direções, e não havia absolutamente ninguém. O dia estava cinza. As calçadas faziam barulho ao se encontrar com as gotas d'água. Ninguém nas varandas, ninguém em lugar nenhum. Todos pareciam que tinham simplesmente desaparecido pra mim. Tudo de propósito.

Decidi esperar a chuva cair sobre meus ombros, e andei exatamente na mesma velocidade que o fazia antes de começar a chover. Parece que a água lava a morte que carregamos dentro de nós e nos da uma centelha de, se não de ânimo, de reflexão. E se refletimos, é porque ainda existe alguma coisa para ser pensada. Ou seja: Existe algo para se lutar.

A chuva, num dia cinza, com 4 árvores num raio de visão, e os mais diversos arranha-céus ao meu redor deram um toque cinematográfico em cena. Eu estava ouvindo música, através dos meus headphones. Estava ouvindo Jazz. Miles Davis. Aquele maldito trompete, tocando

Me senti onde sempre quis estar, e do modo que quis estar: Me senti num local onde não havia ninguém, e ninguém sabia que eu estava ali, exceto uma pessoa, a que acha que eu a ajudei. Foi muito, muito estranho, mas ao mesmo tempo, inesquecível ouvir o trompete do Miles Davis, enquanto uma gotícula se formava na ponta do meu nariz, e ficava lá até eu soprar, com um biquinho.

Era tudo perfeito.

Eu me sentia feliz daquele jeito.

Aquele clima de filme de detetive dos anos 1970.

Só faltou a neblina. Mas não deu tempo dela aparecer, eu cheguei em casa antes.

E assim começou Junho. Literalmente, o meu mês.