sexta-feira, 26 de junho de 2009

Dead Can Dance.

Papo de pai pra filho.

"Vou buscar sua mãe no trabalho, tá a fim de ir?"
- Tô, bora nessa.

Boa Viagem-Afogados. Trânsito filho da puta, mas andando. O carro sem rádio, e andando na maldita imbiribeira, onde nem mulher bonita tem, nem sequer aquelas putas charmosas, que pelo menos dá pra olhar. Nem isso. Só lojas de móveis, motos, plantas e carros. Ah, e claro, estudantes de Universidades pagas.

"Porra, o time dos Estados Unidos é arrumadinho. A Espanha entrou de salto alto."
- Nem acho que tenha sido salto alto. Têm dias que a bola simplesmente não entra. O Villa perdeu duas na cara do gol, e a zaga americana nunca mais repete uma atuação dessa.
"Como é o nome daquele atacante galego da Espanha? Basílio? Muito bom.
- Que Basílio, porra. Torres. Joga no Liverpool.
"Ah... Muito bom ele."

Engraçado como Afogados parece outro mundo. Um lugar escuro. Ermo. Parece uma daquelas cidades-fantasma norte-americanas, onde vivem aqueles libertários, que são contrário a qualquer intervenção formal do Estado na sociedade. A diferença é que em Afogados têm postes quebrados e ladrões.

"O metrô tá em greve ainda?"
- Tá. Vai ser foda, os ônibus vão entrar também, a cidade vai parar.
" Vai mesmo. Como tu vai fazer pra ir pra faculdade?"
- Tô de férias.
"Desde quando?!"
- Desde ontem.
"Porra."
- É...

Chega-se no hospital que a mãe trabalha. Pega-se ela. Já entra no carro falando, típico de mulher:

"Vamos passar no mercadinho do Ciço, pra comprar nescau, pão e leite."
Pai: Tu só avisou agora por quê?
"Avisei hoje de manhã."
Pai: Avisou semana passada também, não conta.

(Risos do filho).

Chega-se no mercadinho, e o filho ia ajudar a mãe na árdua tarefa de pegar o Nescau na prateleira do Ciço. O Ciço deve ser o único mercado feito para faquir e jogador de basquete. A distância entre as prateleiras as estantes deve ser de uns 30cm, e as plateleiras são altas. O mercado é de alto nível (cabem aqui aqueles "rsrs" irritantes).

Mas, na saída do carro, a mãe e o filho se deparam com uma velha, no caixa, já de saída, narrando sua epopéia de como havia reagido a um assalto e metido a porrada no trombadinha. A velha era uma figura assombrosa. Uns 15kg, cabelos que iam até a bunda. Devia ser evangélica aposentada, visto que cabelos também saiam de suas orelhas. A vó era praticamente o mestre splinter.

"Que porra é aquilo?!" Sussurra o filho.

O pai cai na gargalhada, e o filho rí da gargalhada do pai. A mãe vai sozinha, virando o rosto para o lado oposto do da velha, para evitar risadas frontais. Enquanto isso, o filho se encosta no carro, em pé, como uma autêntica puta, rindo com o pai do quão feia era aquela senhora. Exemplo de momento microscópico, de uma família feliz, fofocando e rindo de outra pessoa, como qualquer grupo social saudável.

Quando se entra em casa, cada um pro seu canto. Pronto, acabou.


3 comentários:

  1. Família briga, se desentende, se separa, vive se acusando. Mas engraçado como sempre guarda um tempinho pra momentos como esse. Por mais desarmônico que fosse o clima em casa, já tive situações como essa.

    ResponderExcluir
  2. Cara, eu ri com o teu post. Não sabia que tu escrevia! Muito bom!
    O melhor seria se momentos cmo esse fossem mais frequentes.
    xx

    ResponderExcluir
  3. hahahahahah, eu tenho esses momentos de 'pode de margarina' com minha família.

    é raro. mas de vez em quando até que acontece.

    dá uma aquecidinha nas relações humanas, se acredita que alguma coisa vai dar certo, sei lá.
    é bom, mesmo assim, é bom.

    ResponderExcluir