Papo de pai pra filho.
"Vou buscar sua mãe no trabalho, tá a fim de ir?"
- Tô, bora nessa.
Boa Viagem-Afogados. Trânsito filho da puta, mas andando. O carro sem rádio, e andando na maldita imbiribeira, onde nem mulher bonita tem, nem sequer aquelas putas charmosas, que pelo menos dá pra olhar. Nem isso. Só lojas de móveis, motos, plantas e carros. Ah, e claro, estudantes de Universidades pagas.
"Porra, o time dos Estados Unidos é arrumadinho. A Espanha entrou de salto alto."
- Nem acho que tenha sido salto alto. Têm dias que a bola simplesmente não entra. O Villa perdeu duas na cara do gol, e a zaga americana nunca mais repete uma atuação dessa.
"Como é o nome daquele atacante galego da Espanha? Basílio? Muito bom.
- Que Basílio, porra. Torres. Joga no Liverpool.
"Ah... Muito bom ele."
Engraçado como Afogados parece outro mundo. Um lugar escuro. Ermo. Parece uma daquelas cidades-fantasma norte-americanas, onde vivem aqueles libertários, que são contrário a qualquer intervenção formal do Estado na sociedade. A diferença é que em Afogados têm postes quebrados e ladrões.
"O metrô tá em greve ainda?"
- Tá. Vai ser foda, os ônibus vão entrar também, a cidade vai parar.
" Vai mesmo. Como tu vai fazer pra ir pra faculdade?"
- Tô de férias.
"Desde quando?!"
- Desde ontem.
"Porra."
- É...
Chega-se no hospital que a mãe trabalha. Pega-se ela. Já entra no carro falando, típico de mulher:
"Vamos passar no mercadinho do Ciço, pra comprar nescau, pão e leite."
Pai: Tu só avisou agora por quê?
"Avisei hoje de manhã."
Pai: Avisou semana passada também, não conta.
(Risos do filho).
Chega-se no mercadinho, e o filho ia ajudar a mãe na árdua tarefa de pegar o Nescau na prateleira do Ciço. O Ciço deve ser o único mercado feito para faquir e jogador de basquete. A distância entre as prateleiras as estantes deve ser de uns 30cm, e as plateleiras são altas. O mercado é de alto nível (cabem aqui aqueles "rsrs" irritantes).
Mas, na saída do carro, a mãe e o filho se deparam com uma velha, no caixa, já de saída, narrando sua epopéia de como havia reagido a um assalto e metido a porrada no trombadinha. A velha era uma figura assombrosa. Uns 15kg, cabelos que iam até a bunda. Devia ser evangélica aposentada, visto que cabelos também saiam de suas orelhas. A vó era praticamente o mestre splinter.
"Que porra é aquilo?!" Sussurra o filho.
O pai cai na gargalhada, e o filho rí da gargalhada do pai. A mãe vai sozinha, virando o rosto para o lado oposto do da velha, para evitar risadas frontais. Enquanto isso, o filho se encosta no carro, em pé, como uma autêntica puta, rindo com o pai do quão feia era aquela senhora. Exemplo de momento microscópico, de uma família feliz, fofocando e rindo de outra pessoa, como qualquer grupo social saudável.
Quando se entra em casa, cada um pro seu canto. Pronto, acabou.
Família briga, se desentende, se separa, vive se acusando. Mas engraçado como sempre guarda um tempinho pra momentos como esse. Por mais desarmônico que fosse o clima em casa, já tive situações como essa.
ResponderExcluirCara, eu ri com o teu post. Não sabia que tu escrevia! Muito bom!
ResponderExcluirO melhor seria se momentos cmo esse fossem mais frequentes.
xx
hahahahahah, eu tenho esses momentos de 'pode de margarina' com minha família.
ResponderExcluiré raro. mas de vez em quando até que acontece.
dá uma aquecidinha nas relações humanas, se acredita que alguma coisa vai dar certo, sei lá.
é bom, mesmo assim, é bom.