segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O difícil fim.

Quem conversa durante 10 minutos comigo, consegue saber de 90% da minha vida. Ela não têm muitas aventuras, nem nada mirabolante. Talvez algumas piadas engraçadas, algumas mentiras muito bem arquitetadas e que já viraram verdades, e desabafos sobre coisas que para o resto do mundo podem parecer inócuos, porque eu os faço parecer assim. Mas na realidade, não são. Outra coisa que as pessoas sabem sobre mim, depois desses mesmos 10 minutos, é que amo filmes. E os filmes que amo, são porque foram importantes em minha vida, e trouxeram algum tipo de contribuição. Me mudaram como pessoa, ou me inspiraram, ou ficam tanto tempo na minha memória que chega a doer. São atemporais. Alguns eu chamo de "ótimos filmes ruins". Um deles é a hexalogia de Rocky.


Depois de mais de 2 anos de seu lançamento, finalmente eu assisti o sexto e último filme da série, no box que adquiri, outro sonho antigo meu. E parece que, assim como para o personagem, um ciclo também se encerrou pra mim. É sensacional como as coisas são engraçadas. Eu, aos 24 anos, consegui essa semana meu primeiro emprego com carteira assinada, iniciando uma nova fase na vida. Usando as palavras de Rocky... "não importa o quão forte você bate, e sim o quanto você consegue apanhar, para tentar de novo". Pode parecer infantil dar tanto cartaz à produções que muitos consideram trash ou "B". Bem, não pra mim.

Sempre ficará amrcado na minha cabeça o relacionamento entre Rocky e Mickey, seu primeiro treinador e, para mim, uma figura completamente à parte nos três primeiros filmes. O amor raivoso e estimulante que ele tinha por Rocky, sua determinação em formá-lo, acima de tudo, como pessoa, e sua parceria total e absoluta são exemplos que levarei para toda a minha vida. No primeiro filme isso fica patente, naquela que deve ser uma das cenas mais lindas dos 6 filmes.


A amizade entre Rocky e Apollo, que depois de realizarem lutas memoráveis, com honra, transgrediram para o campo de amizade, quase uma irmandade. Algo puro, sem segredos, amarras e com a possibilidade de dizerem tudo cara a cara, sem artimanhas. O amor entre Rocky e Adrian, que segue intacto durante todas as produções, até mesmo na última, quando a grande atriz Talia Shire não aparece. Mais uma vez, cumplicidade, parceria, respeito. Amor. A luta brutal entre ele e Drago, recheada de ufanismo, sendo que nem isso conseguiu diminuir a força da produção, que é considerada por muitos a melhor dos 6 filmes. Não pra mim. Os dois primeiros filmes são completamente insuperáveis, na minha concepção.


O retrato de como nossa vida pode mudar e nos levar a rumos que tínhamos certeza não serem possíveis. O aparecimento de pessoas que, na hora, você julga serem passageiras e completamente sem relevância, e que aos poucos vão se firmando como imprescindíveis e sempre presentes em sua vida. Esses 6 filmes de Sylvester Stallone mostram tudo isso, em maior ou menor intensidade. Acima de tudo, a força de nunca desistir, de sempre conseguir apanhar um pouco mais para se levantar.



Rocky Balboa não é Sylvester Stallone. Ele conseguiu transplantar seu próprio criador. É algo único, mítico na história do cinema, e incomensurável para seus fãs, que conseguem ver muito mais do que 1 hora e quarenta minutos de chavões e socos. Consegue ser uma retrospectiva de coisas que ainda não vivemos, mas que sabemos como podemos administrar, pois tivemos o "exemplo".


90% das vezes que comentei sobre Rocky com meus amigos, foi em tom de brincadeira. Tudo papo. Me emocionou, emociona e sempre tirarei lições dos filmes. Vejo quantas vezes posso. Com o final do sexto filme, sempre fica a torcida para que Stallone consiga criar mais uma idéia mirabolante e fazer mais um, mais um, mais um. Mas acabou, e parece que fechou-se uma porta na minha vida. Uma gloriosa porta. Para esse round, o sino soou. Sem dor. Sem dor. Sem dor!


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

"Quando criança, queria ser um taxista"



"Twelve hours of work and I still can't sleep. Damn. Days go on and on. They don't end."

Minha alma gêmea não poderia estar em outro lugar, senão no cinema. Um falso herói. Um anti-herói de si mesmo.

Pow. Pow. Pow.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Fate.

Os poetas e cineastas têm um dom que deveria ser repartido com toda a humanidade. Eles conseguem produzir a beleza dentro da desgraça. Conseguem construir o lúdico dentro da apatia. Mesmo que essas pessoas sejam, muitas vezes, as que mais têm problemas internos ou angústias.

Ocorre a mesma coisa com os comediantes. A maioria dos grandes comediantes ao longo da história teve um fim trágico, quando não uma vida particular massacrante e medíocre, sem grandes realizações.

Produzir a beleza dentro da tragédia. Destino dos grandes.

sábado, 24 de julho de 2010

"Uma estação da perfeição da fé"

“Às vezes, quando é difícil pegar o ritmo da escrita, é necessário usar as palavras de outra pessoa. Quando você começar a sentir as suas próprias palavras fluindo, continue por si mesmo.”

Perder a família nos força a encontrar a nossa família. Nem sempre é a família de sangue, mas sim a que pode vir a se tornar. E, se formos sábios a ponto de abrir a porta para essa nova família, descobriremos que o anseio que outrora tivemos pelo pai, que outrora nos guiou; pelo irmão, que outrora nos inspirou; pela mãe, que outrora nos acolheu; podem ser reencontrados em locais que, aparentemente pensávamos ser não usuais.

O valor de um verdadeiro amor pode ser apreendido e aprendido de forma forte, inesperada. Muitas vezes tem uma importância decisiva em nossas vidas. O amor guia nosso caminho, guia nossos sonhos. O amor pleno. A integridade e o respeito que uma amizade nos proporciona, e que fica acima de qualquer revés ou obstáculo, são características e sentimentos que todos devemos buscar atingir.

Em diversas oportunidades, parece que adentramos em buracos negros, onde tudo parece se perder ou se distanciar de nós. Ficamos sozinhos. Parece que fomos abandonados por todo tipo de entidade positiva que antes fazia parte de nossas vidas. Dentro do buraco negro, até a luz é consumida pela densidade infinita do ambiente. Mas até lá, onde tudo parece escuro, a luz tem de vir de algum lugar. Até nesses antros de escuridão, existe alguma espécie de saída. E ela está nas pequenas coisas, nos pequenos sorrisos, nas reuniões, nas rodas de conversa, nos beijos. Nos abraços. Naquela falta de necessidade que temos de saber como estão todos, por sentirmos dentro de nós, que todos estão bem.

Apesar de sempre provarmos o sabor da dúvida e da dor, nunca nos esquecemos de como é gostoso o sabor da felicidade e do prazer. De como é deliciosa a textura do sorriso dos outros. E de como isso consegue nos encaixar no mundo, de como conseguimos “entrar”.

É de se admirar como a beleza está em gestos solúveis, e de como, ainda sim, não conseguimos nos acostumar com ela.

Mark Twain já disse que “o homem é o único animal que cora, ou que deixa corar”. E disse isso com uma intenção depreciativa, usando a vergonha como algo nocivo, um pseudo-arrependimento por ter feito algo de errado, fato que muitas vezes acontece.

Mas o fato de corar torna o homem um ser único, juntamente com sua integração em grupos, não através apenas de um objetivo comum, e sim da amizade e integridade. E, em virtude disso, de como temos outro ponto primordial: Temos ídolos; ícones; exemplos. Dos mais variados modelos e situações.

Reencontrar nossa família, ou melhor, reencontrar nosso motivo para sorrir é algo que não deve ser desperdiçado. Quando se anda através de um túnel escuro, não se deve imaginar que ele é um local sujo, frio, sem alma. E sim, pensar nele como uma imensa noite. Negra, estrelada, com o vento cortante, que trás lembranças, muitas vezes, de coisas que nunca foram vividas, mas que ainda sim estão em nossa memória.

Quando as folhas do outono começam a cair e a inundar o chão com uma mancha amarelada, não é sinal de morte. É sinal de renovação, de recomeço. Mas não é possível recomeçar totalmente do zero. Sempre ficam fantasmas, marcas. Em nossos rostos, em nossas almas. Mas isso, no entanto, não quer dizer que as coisas não possam dar certo. Aquela paisagem aparentemente morta, esconde toda uma esperança que está apenas de fortalecendo, para aparecer.

No fim das contas, se não deixarmos a esperança e a felicidade entrarem de novo, o máximo que poderemos dizer, no futuro, será... “Quisera eu ter feito. Quisera eu ter realizado aquilo... Quisera eu, quisera, quisera, quisera, quisera...”

terça-feira, 20 de julho de 2010

Dream Theater - The Glass Prison

Sabe aquelas músicas que formam sua personalidade? Pronto. Que fique claro: Dream Theater é fraquíssimo. Mas essa música é genialidade pura. Diz coisas demais.

The Glass Prison

I. REFLECTION

Cunning, Baffling, Powerful
Been beaten to a pulp
Vigorous, Irresistable
Sick and tired and laid low
Dominating, Invincible
Black-out, loss of control
Overwhelming, Unquenchable
I'm powerless, have to let go

I can't escape it
It leaves me frail and worn
Can no longer take it
Senses tattered and torn

Hopeless surrender
Obsession's got me beat
Losing the will to live
Admitting complete defeat

Fatal Descent
Spinning around
I've gone too far
To turn back round

Desperate attempt
Stop the progression
At any length
Lift this obsession

Crawling to my glass prison
A place where no one knows
My secret lonely world begins

So much safer here
A place where I can go
To forget about my daily sins

Life here in my glass prison
A place I once called home
Fall in nocturnal bliss again

Chasing a long lost friend
I no longer can control
Just waiting for this hopelessness to end


II. RESTORATION

Run - fast from the wreckage of the past
A shattered glass prison wall behind me
Fight - past walking through the ashes
A distant oasis before me

Cry - desperate crawling on my knees
Begging God to please stop the insanity
Help me - I'm trying to believe
Stop wallowing in my own self pity

"We've been waiting for you my friend
The writing's been on the wall
All it takes is a little faith
You know you're the same as us all"

Help me - I can't break out this prison all alone
Save me - I'm drowning and I'm hopeless on my own
Heal me - I can't restore my sanity alone

Enter the door
Desperate
Fighting no more
Help me restore
To my sanity
At this temple of hope

I need to learn
Teach me how
Sorrow to burn
Help me return
To humanity
I'll be fearless and thorough
To enter this temple of hope

Believe
Transcend the pain
Living the life
Humility
Opened my eyes
This new odyssey
Of rigorous honesty

Serenity
I never knew
Soundness of mind
Helped me to find
Courage to change
All the things that I can

"We'll help you perform this miracle
But you must set your past free
You dug the hole, but you can't bury your sole
Open your mind and you'll see"

Help me - I can't break out this prison all alone
Save me - I'm drowning and I'm hopeless on my own
Heal me - I can't restore my sanity alone


III. REVELATION

Way off in the distance I saw a door
I tried to open
I tried forcing with all of my will and still
The door wouldn't open

Unable to trust in my faith
I turned and walked away
I looked around, felt a chill in the air
Took my will and turned it over

The glass prison which once held me is now gone
A long lost fortress
Armed only with liberty
And the key of my willingness

Fell down on my knees and prayed
"Thy will be done"
I turned around, saw a light shining through
The door was wide open

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Runaway II

Depois de várias e várias tentativas de se encontrarem no lago, o encontro dos dois deu uma esfriada. Mas a vida tratou de juntá-los de novo. Um deles estava no ônibus, se encaminhando para uma tarefa que ele julgava essencial, por era desempregado e precisava se apegar em alguma coisa, quando o outro subiu no mesmo busão. Logo um acenou para o outro, e sentaram-se no mesmo banco.

Um deles olhou e perguntou: E aí, já descobriu o que precisa fazer para ser amado como realmente quer? É você mesmo quem tem que achar essa resposta. Nem que ficássemos o tempo todo na frente daquele lago, eu poderia ter dito alguma coisa de relevante.

Como a viagem do ônibus ainda estava no começo, o outro ficou mais a vontade para falar com mais calma. Isso era importante para ele. Não queria correr o risco de ser mal interpretado. Ele disse que tinha pensado muito naquela pergunta nos últimos dias, e achava que finalmente tinha encontrado a resposta, ou pelo menos o começo dela. Falava que, antes de tudo, ele tinha que resolver um grande problema interno dele, com relação ao relacionamento que tinha com os sentimentos.

Continuou falando que ele tinha o dom (ou a maldição) de sentir coisas muito fortes por determinados períodos de tempo muito curtos. Conseguia amar alguém, ou sentir uma vontade incontrolável de ter determinada pessoa do seu lado, e que depois de alguns minutos ou horas, isso retrosceder de forma que ele considerava anormal, errada, injusta. Ele falava que isso o deixava confuso, porque se sentia dividido entre muitas pessoas, e não conseguia entender como nunca havia encontrado outras pessoas na mesma situação.

Continuou falando que ninguém o entendia, exatamente pelo motivo que disse anteriormente. Se considerava, infelizmente, único. Pelo menos até aquele momento de sua vida. Dizia que tinha rompantes de sentimento muito fortes. Podia amar alguém intensamente, e logo depois isso se evaporar, como água fervente. Com a evaporação do sentimento, iam embora também todas as vontades de ficar ao lado de uma determinada pessoa, ou de querer fazê-la feliz. Nas suas palavras, ele passava de um amante honesto, solicito, companheiro, para um conhecido com um sorriso educado no rosto. Sentia-se como se estivesse atirando milhares de anzóis no mar, torcendo para que um peixe mordesse qualquer um deles. Obtendo isso, ele esqueceria todos os outros anzóis. Não considerava isso certo. Achava que estava com algum problema. Segundo ele, ele amava demais, por curtos períodos de tempo.

"A não ser que isso não seja amor", indagou o companheiro. "Você pode simplesmente estar em busca de algo que simplesmente não sabe o que é, por não ter vivido sua plenitude, e..."

Antes de terminar a frase, ele foi interrompido pelo amigo. Interrompeu-o dizendo que exatamente por já ter vivido isso, ele sabia exatamente o que era, e quando se manifestava. E que o que parecia era que ele via vários "prospectos" a sua frente, e tentava decidir qual era o que parecia mais promissor. Sentia-se mal por isso. Sentia-se desrespeitando as pessoas e, acima de tudo, a ele mesmo. Apesar de achar que esse era um caminho interessante para poder responder aquela pergunta, lá do começo, continuava se sentindo perdido.

"Encontrar nosso próprio caminho é mais difícil do que qualquer coisa, companheiro. Isso é encontrar felicidade."

O ônibus foi quase expresso. Motorista tava atrasado e enfiou o pé. Marcaram, de novo, o lago.

domingo, 4 de julho de 2010

Runaway

Dois jovens estavam sentados num banco, que dá para o lago da cidade. Geralmente as pessoas iam ali para apreciar o por-do-sol, para comer depois do trabalho, para jogar conversa fora, ou simplesmente para terem uma visão diferente da cidade em que viviam. O clima bucólico do lago e da grama em volta dele, cheio de árvores, dava a ilusória sensação às pessoas de viverem em um local tranquilo, calmo, reflexivo. Na maioria das vezes, "o lago", como era conhecido, era ponto de encontro de conversas. Conversas essas quase sempre despretensiosas, que são, sem dúvida, as mais importantes que temos na vida.

Os dois jovens se conheciam desde criança. Um deles era extremamente talentoso. Músico, guitarrista e pianista. Todos tinham a mais absoluta certeza que ele teria um futuro promissor pela frente, se continuasse a se dedicar aos ensaios, treinos e composições. Paralelamente a isso, sempre foi acometido por sérias enfermidades ao longo de toda sua pré-adolescência e adolescência propriamente dita. Isso progressivamente mudou seu jeito de encarar o mundo e os problemas. Não fez muitos amigos durante seus anos de vida, mas mesmo assim era muito admirado por todos que o conheciam, mesmo que fosse apenas de nome, ou de ouvir falar.

O outro tinha uma personalidade diferente. Era engraçado, falava bem em público, apaixonado por esportes. O típico boa praça, que não tinha nenhuma dificuldade de se enturmar em locais novos. Apesar disso, não tinha nenhum talento especial. Alguns poderiam dizer que o maior talento dele estava exatamente na simplicidade com que construía as relações ao seu redor. Era sempre muito querido onde quer que fosse, e as pessoas cobravam sua presença com alguma regularidade. Pela sua desenvoltura e capacidade de socialização, ninguém achava que ele teria problemas para arrumar um emprego e se encaminhar na vida. Ambos tinham exatamente a mesma idade. E há muito tempo não conversavam. Se encontraram no parque por acaso; compraram um saco de pipocas cada um, e resolveram sentar no dito banco para colocar algum dos papos em dia.

Lembraram-se de como conversavam por horas a fio, varando madrugadas, sobre o sentido da vida, sobre como conseguir encontrar uma rota de felicidade, ou pelo menos de aprendizado, de lições. As visões de mundo de ambos, apesar de muito diferentes, quase sempre se completavam. O primeiro jovem relembrou o autêntico estado de depressão que passou durante quase uma década, por conta das doenças e da imensa expectativa que todos colocavam nele desde que se entendia por gente. A doença que foi acometido acabou por completar o quadro de desordem que sua vida se tornara. Ele dizia na conversa que não queria servir de modelo de superação para ninguém, pois não acreditava nessas temáticas de auto-ajuda, mesmo com todos sempre o pedindo conselhos e relatos de histórias de vida (nesse caso, da vida dele).

O outro comentava que sempre viveu a vida achando que um curso meio que natural o levaria a conquistar alguns de seus objetivos. Ele dizia que sempre tentou corresponder Às metas que eram designadas para ele, que raramente andara fora da linha, e que achava que, por isso, receberia algum tipo de "resposta" por conta de toda essa rota vivida. Depois de uma adolescência normal, com altos e baixos, como a de qualquer pessoa, ele agora percebia que as respostas que tanto esperava e procurava não estavam aparecendo. Ou pelo menos não eram as respostas que ele esperara por tanto tempo. Sentia-se frustrado. Triste. Dizia que o lago o fazia pelo menos pensar com mais objetividade, deixando seus velhos romantismos de lado.

Os dois conversavam bastante acerca de decepções, amores, esperança, fé. O primeiro dizia que não entendia bem tais conceitos. Que nunca tinha tido tempo para pensar mesmo a respeito dos mesmos. O segundo achava que os tinha muito claros em sua cabeça, pois o que mais tinha feito durante toda a sua vida era pensar, refletir, analisar situações e sentimentos que achava que sentia. O segundo se dizia muito incompetente em agir. Que era tão eficaz no campo dos projetos e das idéias, que não sabia como caminhar fora dessa redoma. E que estava começando a se aventurar nesse mundo apenas agora. O segundo riu. Não conseguia acreditar.

O primeiro não acreditava em castigos, pecados, boas ações. Ele acreditava apenas no aqui e no agora. Na beleza do momento, e de como as pessoas sempre tentam negar o "agora" simplesmente pela comodidade de analisar o passado ou sonhar com o futuro. Era exatamente aí que ambos mais tinham a aprender um com o outro. O primeiro sempre tentou viver o agora. O segundo sempre tentou projetá-lo. O segundo falou de uma grande paixão que estava sentindo e que não era correspondida, e de como estava aprendendo a lidar com isso de uma forma cada vez mais eficiente. O primeiro falava da necessidade de aprender a amar. De que não havia aprendizado mais difícil e longo. E citou exemplos de seu último casamento, que havia durado 3 anos, mas que havia terminado. O segundo riu e dizia que não conseguia sequer namorar. Reclamava que a visão que os outros tinham dele não era a que ele queria que tivessem, e que isso sempre o atrapalhava, apesar de sempre ser elogiado.

O primeiro riu, disse que isso era uma regra para todos. Ninguém, segundo ele, era visto como queria, justamente porque as pessoas têm visões diferentes a respeito dos outros. O segundo não se conformava com tal fato, e pedia respostas exatamente para isso: O que ele tinha de mudar, o que tinha de fazer para ser amado como queria?

No momento da resposta, a pipoca de ambos acabou. O primeiro tinha de voltar para os ensaios, e o segundo ia fingir que iria estudar em alguma biblioteca. Marcaram de se encontrar em alguns dias, no mesmo banco.

Continua