quarta-feira, 14 de julho de 2010

Runaway II

Depois de várias e várias tentativas de se encontrarem no lago, o encontro dos dois deu uma esfriada. Mas a vida tratou de juntá-los de novo. Um deles estava no ônibus, se encaminhando para uma tarefa que ele julgava essencial, por era desempregado e precisava se apegar em alguma coisa, quando o outro subiu no mesmo busão. Logo um acenou para o outro, e sentaram-se no mesmo banco.

Um deles olhou e perguntou: E aí, já descobriu o que precisa fazer para ser amado como realmente quer? É você mesmo quem tem que achar essa resposta. Nem que ficássemos o tempo todo na frente daquele lago, eu poderia ter dito alguma coisa de relevante.

Como a viagem do ônibus ainda estava no começo, o outro ficou mais a vontade para falar com mais calma. Isso era importante para ele. Não queria correr o risco de ser mal interpretado. Ele disse que tinha pensado muito naquela pergunta nos últimos dias, e achava que finalmente tinha encontrado a resposta, ou pelo menos o começo dela. Falava que, antes de tudo, ele tinha que resolver um grande problema interno dele, com relação ao relacionamento que tinha com os sentimentos.

Continuou falando que ele tinha o dom (ou a maldição) de sentir coisas muito fortes por determinados períodos de tempo muito curtos. Conseguia amar alguém, ou sentir uma vontade incontrolável de ter determinada pessoa do seu lado, e que depois de alguns minutos ou horas, isso retrosceder de forma que ele considerava anormal, errada, injusta. Ele falava que isso o deixava confuso, porque se sentia dividido entre muitas pessoas, e não conseguia entender como nunca havia encontrado outras pessoas na mesma situação.

Continuou falando que ninguém o entendia, exatamente pelo motivo que disse anteriormente. Se considerava, infelizmente, único. Pelo menos até aquele momento de sua vida. Dizia que tinha rompantes de sentimento muito fortes. Podia amar alguém intensamente, e logo depois isso se evaporar, como água fervente. Com a evaporação do sentimento, iam embora também todas as vontades de ficar ao lado de uma determinada pessoa, ou de querer fazê-la feliz. Nas suas palavras, ele passava de um amante honesto, solicito, companheiro, para um conhecido com um sorriso educado no rosto. Sentia-se como se estivesse atirando milhares de anzóis no mar, torcendo para que um peixe mordesse qualquer um deles. Obtendo isso, ele esqueceria todos os outros anzóis. Não considerava isso certo. Achava que estava com algum problema. Segundo ele, ele amava demais, por curtos períodos de tempo.

"A não ser que isso não seja amor", indagou o companheiro. "Você pode simplesmente estar em busca de algo que simplesmente não sabe o que é, por não ter vivido sua plenitude, e..."

Antes de terminar a frase, ele foi interrompido pelo amigo. Interrompeu-o dizendo que exatamente por já ter vivido isso, ele sabia exatamente o que era, e quando se manifestava. E que o que parecia era que ele via vários "prospectos" a sua frente, e tentava decidir qual era o que parecia mais promissor. Sentia-se mal por isso. Sentia-se desrespeitando as pessoas e, acima de tudo, a ele mesmo. Apesar de achar que esse era um caminho interessante para poder responder aquela pergunta, lá do começo, continuava se sentindo perdido.

"Encontrar nosso próprio caminho é mais difícil do que qualquer coisa, companheiro. Isso é encontrar felicidade."

O ônibus foi quase expresso. Motorista tava atrasado e enfiou o pé. Marcaram, de novo, o lago.

Um comentário:

  1. Parafraseando o próprio Daniel Johns: "don't feel bad, you're not the only one". Sei exatamente como é essa sensação que tu descreveu, justamente por sofrer do mesmo mal. Sendo que nunca encontrei palavras pra descreve-la ou - pior - nunca quis admitir que sofria desse mal.

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