quarta-feira, 11 de março de 2009

Saudade.

Uma pausa na história, para um desabafo.

Tenho saudades de muita coisa em minha vida. Algumas fáceis de explicar. Já outras, extremamente complicadas. Tenho saudade dos tempos em que eu era feliz com coisas mais fáceis de se conseguir, como um S.O.S Commandos. Custava 49 reais, e com um pouco de choradeira, consegui 13 deles. Atualmente, as coisas que me fazem feliz são mais complicadas de se conseguir. Só o Sport mesmo.

Tenho saudades de um trabalho de ciências que fiz, na quarta série. Me lembro porque foi um dos maiores exemplos de responsabilidade da minha vida. Acordei de 7hs, no domingo, sem pedir pra ninguém me chamar. Todos dormiam em casa, enquanto eu sentava na minha mesa de estudos - que nunca tinha usado - para fazer o trabalho. Tinha 4 páginas, e colagens de personagens da turma da Mônica, com balões com explicações sobre o assunto pesquisado, as células. Terminei de 11 horas e fui dormir de novo. Ganhei 10.

Tenho saudades do Tico. Meu cachorro poodle, que morreu atropelado por um irresponsável bêbado, que nem se preocupou em parar. Eu estava tomando banho, na minha casa de praia, quando ouvi o grito. Achei que tivesse sido outro cachorro. Mas quando saí, o vi lá. Fomos ao veterinário, ele o medicou e fomos pra casa. De madrugada, me acordei para olhá-lo, e ele morreu nos meus braços, olhando com um imenso ar de tristeza. Parece que vivemos muito pouco do que poderíamos ter vivido. Cachorro porreta. Poucos seres vivos gostaram tanto de mim quanto aquele cão. Sinto muita, muita falta dele. E do tique nervoso que ele tinha nas patas da frente. Sensacional. E de como ele chorava quando achava que alguém estava dando bronca em mim.

Tenho saudade da minha primeira enterrada num jogo de basquete. Quando não sabia a hora certa de soltar o aro de ferro, todo detonado, e ele simplesmente veio na minha mão. Aro de ferro, mais tabela de madeira, igual a quebra, por segurar um garoto de 70 quilos. Tenho saudade do basquete em si. Me sentia qualificado e útil pra alguma coisa. Sentimento que só vim a ter novamente há alguns dias.

Tenho saudade de entender melhor as pessoas. Saudade de me decepcionar menos com pessoas que julgava companheiras, parcerias, mas que na verdade se mostraram diferentes do que eu julguei. 

Tenho saudades da época em que eu não julgava as pessoas. Que eu não fazia isso com nada. Eu simplesmente vivia minha vida, um dia de cada vez, aprendendo um dia de cada vez. E me achando a pessoa mais feliz do mundo.

Tenho saudade do seu Edílson, vulgo "Dílsu!", caseiro da minha casa em São José da Coroa Grande. Sem dúvida, a pessoa mais preguiçosa e honesta que conheci na vida. De uma índole ímpar. Um coração irritantemente puro e doce. Brincava com um pivete de 12 anos. Futebol de barrinha com uma bola de plástico, de 20cm de diâmetro. Andava de bicicleta comigo até a praça, comprávamos coisas dos hippies e íamos pra casa. Grande homem. Espero que seja muito feliz. Merece mais do que eu, e do que muitos.

Tenho saudade de chorar menos, ou de praticamene não chorar. Ou de não pensar tanto em coisas ruins. Seria melhor se eu desse mais valor às boas coisas da vida, ao invez de tentar consertar as ruins e ver como sou incompetente nesse tipo de coisa.

Tenho saudade de como eu planejava o futuro. 

Tenho saudade dos meus sonhos.

Chega disso.

4 comentários:

  1. Parece que a gente vai ficando ranzinza com o passar do tempo, criando uma casca por fora. Mas, por dentro, pff... a merma merda sentimentalóide, ou pior. É a maneira que encontramos para nos proteger dos ataques cada vez mais constantes, que sofremos por termos inventado de virar adultos. Velho, tu é o Fábio Hernandez pernambucano. Já tinha falado isso. Saca o blog do cara que tu vai entender:

    http://www.ohomemsincero.globolog.com.br/

    Quero chegar logo pra gente tomar umas cervejas e destilados pra embalar esses assuntos.

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  2. tenho saudade dos meus sonhos. Acho que já escrevi a mesmíssima coisa em algum papel por aqui. É isso aí mesmo, a gente vai ficando velho e 'aprendendo' a ver as coisas de uma forma que nem sempre fazem a gente mais feliz.
    Assunto pra mesa de bar. Cervejas OU destilados, para embalar esses assuntos.

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  3. Nhé, nhé, nhé. Lavagem de roupa no blog dos outros é feio.

    Mas, aproveitando pra continuar. Aquela idéia que tu jogou aqui, sobre tua idade ideal - a velhice - é um equívoco, de acordo com o que a gente falou. Às vezes é preciso abrir as cortinas pra deixar entrar um pouco de espetáculo. Nem tudo na vida é só ensaio. Tu vai quebrar a cara e vai achar gostoso. Ui.

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  4. Suas memórias são lindas.

    E eu acho que para o futuro, uma das coisas mais interessantes que se pode fazer, é viver o que você gostaria de rememorar depois, iguais a estas que li agora.

    Parece um comentário cruel e pretensioso... Mas não pense asssim..
    Eu estou tentando viver também.

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