domingo, 15 de março de 2009

Clear Mind? [2º Capítulo da História]


"X" tentou, nos dias posteriores a sua conversa com o velho, entender o que se passava.

"Você sabe como se sente ao ser despertado como se a água cobrisse seus olhos? Tente abri-los."

Ele simplesmente não entendia o que isso queria dizer. Essa frase não lhe saia da cabeça. O olhar do velho, de absoluta tranqulidade e confiança na astúcia de "X", o deixavam ainda mais pensativo. Tentando pensar em outras coisas, ele foi olhar fotos antigas.

Amigos. Festas. Conhecidos. Amores. Tudo estava ali, registrado. Como se ele necessitasse
de fotos para relembrar alguma coisa.

Tudo estava irritantemente fresco em sua cabeça. Até a lembrança mais ridícula. Para "X", tudo importava. Tudo era significativo. Quando ele menos esperava, começaram a cair lágrimas de seus olhos. Acompanhadas agora de um imenso e sincero sorriso no rosto.

"Será isso que ele quis dizer? Finalmente consegui abrir meus olhos, mesmo cobertos de água? Despertei!"

A partir daí, ele tornou a caminhar nos arredores de sua casa, e foi a mesma árvore onde tinha encontrado o velho. O mesmo estava lá. Dessa vez, não cortava galhos mortos de nenhuma árvore. E sim tentava juntar as folhas mortas, mesmo contra a violenta ventania que havia naquela tarde. O velho olhou pra ele, fez o clássico sinal de positivo com a mão e disse:

"Você demorou, filho. Mas enfim, despertou."

O velho deu a "X" uma faca. Este, sem pestanejar, chegou na frente da árvore e riscou duas frases, embaixo das que ele havia lido na outra oportunidade.

"Contra os meus pesadelos, contra meus demônios, eu sou muito forte." Mais uma vez, largo sorriso.

O vento, seu maior amigo, cortava-lhe o rosto de novo. Quando se virava para ir embora, o velho lhe faz um convite.

"Está na hora de tomarmos um bom café. Forte, e com aquele cheiro de taverna."
- O senhor mora por aqui?"
"Sim. Deixe-me apenas colocar fogo nessas folhas antigas, que só fazem turvar a visão de quem passa."
- Mas elas são lindas.
"Sim. Mas morreram."

O tempo esfriou de repente, e o velho colocou a mão em cima de sua cicatriz, com uma forte expressão de dor em seu rosto aparecendo em seguida. Ele desistira de colocar fogo nas folhas, e o vento fez o trabalho de espalhá-las pelo campo de novo. Os dois caminharam para a casa do sábio homem.




"Quem é o senhor?" Perguntou "X".


3 comentários:

  1. Mau, adoro o clima denso e misterioso que você cria.
    A imagem que aparece no final aparece apenas para confirmar a outra visão que aparece na minha cabeça.

    Texto muito legal.

    ""Sim. Deixe-me apenas colocar fogo nessas folhas antigas, que só fazem turvar a visão de quem passa."
    - Mas elas são lindas.
    "Sim. Mas morreram.""

    FUDEROSO.
    E tenho dito.

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  2. Memória não solta faísca. Nem se apaga. Sábio é quem sabe conviver com ela sem atritos. O negócio tá bom.

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