Danilo sempre via sua vida sob a ótica de filmes, queria que todo o universo que o rodeasse na "vida real" tivesse aquele tom noir, nostálgico. Viver em eterno clima de nostalgia fazia uma confusão agradável na sua cabeça. Parecia que ele tinha saudades de coisas que nunca tinha vivido, mas ao mesmo tempo sabia exatamente como se sentia naquelas mesmas situações. Parecia que andava sempre sem nunca colocar os pés no chão. Com um saxofone na mente, ouvindo melodias de filmes que passam de madrugada, na Globo, e aquele sorriso sacana de jazzista negro e gordo da Louisiana.
A tentativa de universo noir sempre esbarrava na modernidade técnica e tecnológica do cotidiano de Danilo. Ele encarava a nostalgia como algo que não poderia ser vivida nos dias de hoje. Pelo menos não o modelo que ele idealizava e queria para si mesmo. Aquele, dos filmes. Queria porque queria ser escritor. Queria ter um estilo de comportamento que não cabia nele. Ele queria ser visto por outros de uma maneira diametralmente oposta ao que acontecia. Não conseguia se encaixar, se encontrar. Por isso, se danava a escrever em blogs de internet da vida. Paralelamente a isso, usando personagens marcantes (pra ele) de filmes como modelos de atitudes, de sonhos, comportamentos.
Foi num desses filmes que ele viu um personagem que andava com um pequeno bloco de anotações na bolsa. Sempre que pensava em algo que julgasse interessante, tirava o bloco da mochila, anotava rapidamente 3 ou 4 frases e guardava de novo. Isso várias vezes ao dia e em qualquer lugar. Tinha acumulado vários blocos desses, que ficavam na sua casa, em seu armário, e seus amigos não tinham idéia de que ele tinha essas coisas. Viviam numa realidade completamente diferente da dele.
"O Danilo tá sempre olhando pro nada, escrevendo.", disse Jamal.
- É doidera.
Ele sempre desconversava. Não sabia exatamente para onde os textos iriam levá-lo, e não se preocupava muito com aquilo. Existiam perguntas fundamentais da vida de qualquer pessoa dentro daqueles blocos. Mas ele não sabia aonde - e nem se iria - achar as respostas. Algumas questões se repetiam há anos, apenas com novas roupagens, novos motivos. Mas as mesmas perguntas.
Não havia culpados.
Enquanto as respostas não vinham, ele fechava os olhos e fugia dali. Pensava no seu mundo e preto e branco, com aquela chuva fina que não molhava, apenas dava o clima dos anos 1950 de Al Capone e Sinatra, e um gato em cima do muro. Na esquina, aquele negão gordo, com o saxofone ou trompete, tocando há oras, mas sem suar, com um anel imenso no dedo mindinho, e bigodinho raspado, a lá porteiro. E ele era o único que se molhava com a chuva. Tudo era motivo de sorrisos complacentes. De contemplação.
"Danilo, vai aonde nessa chuva?" Perguntou Jamal.
- Por aí, não torra.
A tentativa de universo noir sempre esbarrava na modernidade técnica e tecnológica do cotidiano de Danilo. Ele encarava a nostalgia como algo que não poderia ser vivida nos dias de hoje. Pelo menos não o modelo que ele idealizava e queria para si mesmo. Aquele, dos filmes. Queria porque queria ser escritor. Queria ter um estilo de comportamento que não cabia nele. Ele queria ser visto por outros de uma maneira diametralmente oposta ao que acontecia. Não conseguia se encaixar, se encontrar. Por isso, se danava a escrever em blogs de internet da vida. Paralelamente a isso, usando personagens marcantes (pra ele) de filmes como modelos de atitudes, de sonhos, comportamentos.
Foi num desses filmes que ele viu um personagem que andava com um pequeno bloco de anotações na bolsa. Sempre que pensava em algo que julgasse interessante, tirava o bloco da mochila, anotava rapidamente 3 ou 4 frases e guardava de novo. Isso várias vezes ao dia e em qualquer lugar. Tinha acumulado vários blocos desses, que ficavam na sua casa, em seu armário, e seus amigos não tinham idéia de que ele tinha essas coisas. Viviam numa realidade completamente diferente da dele.
"O Danilo tá sempre olhando pro nada, escrevendo.", disse Jamal.
- É doidera.
Ele sempre desconversava. Não sabia exatamente para onde os textos iriam levá-lo, e não se preocupava muito com aquilo. Existiam perguntas fundamentais da vida de qualquer pessoa dentro daqueles blocos. Mas ele não sabia aonde - e nem se iria - achar as respostas. Algumas questões se repetiam há anos, apenas com novas roupagens, novos motivos. Mas as mesmas perguntas.
Não havia culpados.
Enquanto as respostas não vinham, ele fechava os olhos e fugia dali. Pensava no seu mundo e preto e branco, com aquela chuva fina que não molhava, apenas dava o clima dos anos 1950 de Al Capone e Sinatra, e um gato em cima do muro. Na esquina, aquele negão gordo, com o saxofone ou trompete, tocando há oras, mas sem suar, com um anel imenso no dedo mindinho, e bigodinho raspado, a lá porteiro. E ele era o único que se molhava com a chuva. Tudo era motivo de sorrisos complacentes. De contemplação.
"Danilo, vai aonde nessa chuva?" Perguntou Jamal.
- Por aí, não torra.
Tás trocando teu nome pelo de Danilo e achas que está enganando?
ResponderExcluirAcho o sentimento (no sentido de sentir ele) da nostalgia uma bosta. Só gera frustração em você por não poder viver novamente (se é que você já viveu) algo passado.
ResponderExcluirNáo, não acho que estou enganando. Alguma outra questão?
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