quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Lágrimas.

O menino quase nunca chorava, apesar de ter motivos para tal.

Ocorriam os mais diversos problemas, de toda ordem emocional, para com ele diretamente e com sua família. Isso, obviamente, respingava nele. Apesar de se dizer racional e independente, ele tem determinadas raízes muito bem fincadas com seu pai e sua mãe. Mas, mesmo assim, o menino não chorava. Quando havia algum problema ou situação onde o choro seria uma reação esperada e completamente normal, ele reagia com raiva, com um excesso de atitude, visando encerrar aquilo o mais rápido possível. Era raçudo ele. Muitos diziam que ele se fazia de forte. Que não queria preocupar ninguém; que não queria ser mais um estorvo, causando comoção em outras pessoas, já tão assoberbadas, com seu choro inútil. Nada disso.

Ele tinha um problema maior: O menino não conseguia chorar. Passava meses, semestres, anos sem conseguir derramar uma lágrima sequer. Muitas vezes ele forçou seus olhos, tentando buscar alguma resposta dentro deles, para seu rosto ficasse inchado, e os olhos vermelhos, para assim sua face tornar-se mais fiel com o que ele sentia dentro de si mesmo. quase nunca obtinha sucesso. Ele não chorava, e as pessoas ficavam espantadas com isso. Não era aquilo que elas esperariam de uma pessoa normal. E exatamente por isso, ele tentava chorar: Porque era exatamente aquilo que os outros esperariam. Seria o compreensível.

Mas ficava tudo dentro dele. O menino dizia que "chorava pra dentro", que as lágrimas caiam dentro de seu corpo, pois seus olhos pareciam secos para o lado de fora. e olhe que o garotão já havia passado por situações-limite, de cunho emocional. Mas ele parecia ter uma dificuldade acima do comum de chorar. Nada a ver com machismo ou qualquer outro "ísmo" idiota. Ele simplesmente não encontrara situação que explicasse e/ou definisse tal ato (ou falta de ato). Ele sempre fora muito preocupado com o que as pessoas estavam esperando dele. E, em virtude disso, ficava decepcionado quando não conseguia transmitir para os demais, o que ele queria que vissem.

Foi exatamente isso que fez o garoto chorar de novo. E como foi boa a sensação. Sofrer, e conseguir traduzir isso em lágrimas. Abundantes, caudalosas e sinceras. Ele chorou, e ao mesmo tempo parecia satisfeito, por ter desafogado, pelo menos um pouco, suas mazelas em uns pingos d'água. O piso do seu quarto, mais especificamente onde fica a cadeira de estudos, ficou tremendamente escorregadio. Enxugou com um par de meia sujo, que sempre estava por perto. O menino chorou, chorou. Buscou respostas e, subitamente, muitas delas apareceram.

Sua cabeça parecia estar tão cheia de lágrimas represadas, que não havia espaço para as respostas passarem.